Carregando
Recife Ao Vivo

CBN Recife

00:00
00:00
Política

ARTIGO: Crise na China: Como Isso Afeta o Brasil?


Por: REDAÇÃO Portal

André Falcão, economista e sócio da Múltiplos Investimentos

André Falcão, economista e sócio da Múltiplos Investimentos

Foto: Divulgação

15/04/2024
    Compartilhe:

Em 2021, eu e minha equipe emitimos um alerta sobre os perigos de investir na China, prevendo uma possível deterioração do cenário econômico. Agora, em 2024, testemunhamos uma escalada dessa situação com uma crise imobiliária em curso, queda no consumo, crescimento do PIB abaixo das expectativas e um declínio populacional em perspectiva - todos indicadores de que o modelo de crescimento chinês está em declínio. Desde a publicação daquele artigo, o ETF de ações chinesas caiu impressionantes 46,22%.

Para compreender a atual crise e a fraqueza econômica na China, precisamos fazer uma retrospectiva. A transformação da China em uma potência econômica teve início na década de 1980, com reformas que abriram o país para investimentos estrangeiros e encorajaram a industrialização. O crescimento foi impulsionado pelo setor imobiliário e pela construção, beneficiados por políticas governamentais favoráveis e um influxo massivo de capital.

A trajetória econômica da China guarda semelhanças notáveis com a experiência de outros países asiáticos, especialmente o Japão. Após um crescimento econômico notável no pós-guerra, o Japão entrou em uma fase de estagnação a partir da década de 1990. Agora, a China, que desfrutou de um crescimento econômico impressionante nas últimas décadas, enfrenta desafios significativos que ameaçam desacelerar sua economia.

Ambos os países seguiram um modelo de crescimento baseado na exportação e no investimento pesado em infraestrutura e indústria. Contudo, esse modelo atingiu um ponto de retornos decrescentes, onde investimentos adicionais não geram mais o mesmo crescimento econômico de antes.

Exemplificando: construir o primeiro trem-bala leste-oeste traz grandes retornos econômicos, contribuindo para o crescimento da produtividade. O segundo trem também. No entanto, no décimo trem, os ganhos são marginais, pois a logística já está avançada e eficiente, e o aumento proporcional que o investimento em infraestrutura proporciona é decrescente.

Além disso, um dos principais motores do crescimento chinês foi sua abundante população, que deixou para trás a pobreza e o trabalho no campo, fornecendo por décadas uma mão de obra barata para a indústria em ascensão. Contudo, esse cenário está mudando radicalmente, com a perspectiva de declínio populacional nos próximos anos devido ao aumento da renda per capita chinesa, mudanças nos hábitos da população e programas desastrosos do Estado, como a política do filho único.;

Nesse contexto, a China enfrenta o desafio de fortalecer seu balanço fiscal e desenvolver autossuficiência em insumos para suportar as crescentes sanções econômicas do Ocidente, num cenário geopolítico cada vez mais crítico.

Essa desaceleração chinesa pode levar a uma "exportação de deflação", com a redução do consumo interno chinês e a consequente queda nos preços dos produtos exportados pelo país. Isso pode baratear os produtos chineses no mercado internacional, aumentando a concorrência para as empresas internacionais.

Para o investidor brasileiro, isso significa navegar num cenário incerto. A China é um dos principais parceiros comerciais do Brasil, e uma redução na demanda chinesa por commodities pode impactar negativamente nossas exportações.

O Brasil foi um dos países que mais se beneficiou do boom imobiliário com urbanização e aumento da renda per capita da China. O mercado chinês se tornou nosso principal destino de exportações. Surge a questão: será que nossa força na produção e exportação de minério de ferro e soja, por exemplo, se manterá num contexto de transição econômica chinesa?

Acredito que empresas brasileiras que dependem das exportações para a China, especialmente aquelas ligadas ao setor imobiliário em declínio, como siderúrgicas, também podem sofrer. Exemplos incluem Vale, Gerdau e outras siderúrgicas, que enfrentarão desafios diante da crise imobiliária chinesa e da queda na demanda por aço.

Continuo a ver a China como um mercado de investimento não viável, não apenas devido à sua atual fragilidade econômica, mas também por sua alta intervenção estatal. Aconselho os investidores brasileiros a evitarem empresas dependentes da economia chinesa, focando em empresas brasileiras resilientes e em mercados sólidos.

Notícias Relacionadas

Comente com o Facebook