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Vegetarianismo mitiga risco cardiovascular e ajuda no controle da DCV, diz estudo


Por: REDAÇÃO Portal

07/08/2023
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Domingos Melo, MD, PhD. Professor de Medicina

 

Agosto de 2023

 

Autores Tian Wang, APD, RD1 ; Cynthia M. Kroeger, PhD1 ; Sophie Cassidy, PhD1 ; et alSayan Mitra, MBBS, MPH, MPhil1 ; Rosilene V. Ribeiro, APD, PhD1 ; Shane Jose, MS1 ; Andrius Masedunskas, PhD1 ; Alistair M. Senior, PhD1 ; Luigi Fontana, MD, PhD1,2,3

 

Pacientes com doença cardiovascular ou alto risco cardiovascular que adotaram uma dieta vegetariana por pelo menos seis meses apresentaram melhora significativa nos principais fatores de risco cardiovascular, como colesterol, controle glicêmico e peso corporal, segundo metanálise de estudos controlados randomizados. "Até onde sabemos, esta é a primeira metanálise baseada em evidências de estudos controlados randomizados a avaliar a associação de dietas vegetarianas a desfechos [clínicos] em pacientes acometidos por doenças cardiovasculares", disseram os autores da pesquisa. O estudo foi publicado online em 25 de julho no periódico JAMA Network Open. “As maiores reduções nos níveis de hemoglobina glicada (HbA1c) e lipoproteína de baixa densidade do colesterol (LDL) foram observadas em pacientes com diabetes tipo 2 e em pessoas com alto risco de doença cardiovascular, evidenciando os potenciais efeitos protetores e sinérgicos de dietas vegetarianas na prevenção primária de doenças cardiovasculares”, disseram os pesquisadores. A má alimentação já está bem estabelecida como um fator responsável pelo aumento de morbidade e mortalidade associadas às doenças cardiovasculares. No entanto, embora dados de estudos anteriores tenham associado as dietas vegetarianas à prevenção de doenças cardiovasculares na população geral, ainda não havia pesquisas sobre a eficácia dessas dietas em indivíduos com alto risco cardiovascular. "Até onde sabemos, não havia nenhuma metanálise de estudos controlados randomizados avaliando a associação de dietas vegetarianas a desfechos [clínicos] em pacientes com doença cardiovascular. Na realidade, a nossa pesquisa se concentrou principalmente em estudos observacionais", escreveram a nutricionista clínica Tian Wang e seus colaboradores, todos eles afiliados à University of Sydney, na Austrália. Grandes reduções de LDL, HbA1c e peso corporal com dietas vegetarianas Na metanálise, os pesquisadores identificaram 20 estudos controlados randomizados sobre dietas vegetarianas que recrutaram 1.878 indivíduos adultos com doença cardiovascular ou alto risco cardiovascular e avaliaram os níveis de LDL, HbA1c ou pressão arterial sistólica. Os estudos foram conduzidos nos Estados Unidos, Ásia, Europa e Nova Zelândia entre 1990 e 2021. O tamanho das amostras clínicas variou entre 12 e 291 participantes. A faixa etária média dos participantes foi de 28 a 64 anos. Os estudos avaliaram pacientes com doença cardiovascular (quatro estudos), diabetes (sete estudos) e indivíduos com pelo menos dois fatores de risco cardiovascular (nove estudos). A duração média da intervenção dietética foi de 25,4 semanas (variando entre 2 e 24 meses). As dietas mais prescritas foram: vegana (apenas produtos de origem vegetal), ovolactovegetariana (sem carne, aves e frutos do mar, mas com laticínios e ovos) e lactovegetariana (sem carne, aves, frutos do mar e ovos, mas com laticínios). No geral, em comparação com outras dietas, os pacientes que seguiram uma dieta vegetariana durante um período médio de seis meses tiveram reduções significativamente maiores de LDL (6,6 mg/dL além da redução alcançada com o tratamento convencional); HbA1c (0,24%) e peso corporal (3,4 kg). No entanto, a redução da pressão arterial sistólica não foi significativamente maior nesse grupo (0,1 mmHg). Uma avaliação das evidências do estudo realizada por meio da ferramenta GRADE (do inglês, G rading of Recommendations, Assessment, Development, and Evaluation) mostrou um nível moderado de certeza para as reduções de LDL e HbA1c com a dieta vegetariana. As dietas ovolactovegetarianas foram associadas à maior redução de LDL observada (14,1 mg/dL). No entanto, quatro dos cinco estudos analisados restringiram a ingestão calórica dos participantes. É importante notar que as dietas vegetarianas foram mais eficazes no controle glicêmico em pacientes com diabetes tipo 2 e levaram à perda de peso em indivíduos com alto risco cardiovascular, bem como naqueles com diabetes tipo 2. Os efeitos observados no estudo "sugerem que as dietas vegetarianas podem atuar de forma sinérgica [ou, no mínimo, não antagônica] na potencialização dos efeitos de medicamentos adequados para prevenção e tratamento de diversas doenças cardiometabólicas", escreveram os autores. Embora estudos anteriores tenham mostrado melhoras semelhantes associadas a dietas vegetarianas, a maioria das pesquisas não estratificou as populações avaliadas conforme o status da doença, o tipo de dieta vegetariana ou a dieta de comparação, apontaram os autores. A ausência de melhora na pressão arterial sistólica coincide com os achados de metanálises anteriores de dietas vegetarianas e sugere que a ingestão de sal seja o fator mais importante nesse caso. "[A metanálise] sugere que a qualidade da dieta tem um papel importante na redução da pressão arterial, independentemente do consumo de alimentos de origem animal, como demonstrou o estudo [sobre a dieta] DASH (do inglês, Dietary Approach to Stop Hypertension)", disseram os autores. Redução na dose de medicamentos com a dieta vegetariana Embora a maioria dos participantes tomasse medicamentos para controle de hipertensão, hiperglicemia e/ou dislipidemia no início do estudo em até oito das pesquisas analisadas, a intervenção com a dieta vegetariana resultou em uma diminuição na dose administrada. De fato, o uso de medicamentos pode encobrir os efeitos favoráveis das dietas vegetarianas, que podem ter um impacto ainda maior, especularam os autores. "Essa hipótese é confirmada por dois estudos controlados randomizados presentes na nossa metanálise. Eles exigiram que os pacientes não tomassem medicamentos que pudessem influenciar os desfechos cardiometabólicos, e detectaram melhoras significativas na pressão arterial sistólica e nos níveis de LDL", eles escreveram. Nem todas as dietas vegetarianas são saudáveis Embora existam inúmeras variações nas dietas vegetarianas, que vão desde dietas veganas (sem nenhum alimento de origem animal) até dietas pescovegetarianas (permitem consumo de peixes ou frutos do mar), a maioria delas é bastante balanceada e pode trazer benefícios à saúde, como a redução dos níveis de gordura saturada, L-carnitina e colina (precursores do N-óxido de trimetilamina [TMAO], um metabólito aterogênico), além de outros benefícios que podem explicar as melhoras observadas na metanálise. Essas dietas também podem ser ricas em fibras alimentares, ácidos graxos mono e poli-insaturados, potássio, magnésio e fitoquímicos, e ter índices glicêmicos mais baixos. É importante ressaltar que 12 estudos avaliados na metanálise priorizaram a redução do teor de gordura na alimentação, o que, segundo os autores, pode ter contribuído para melhorar os níveis de LDL. Especificamente, as dietas ovolactovegetarianas foram associadas à maior redução de LDL (−14,1 mg/dL). Entretanto, quatro dos cinco estudos restringiram a ingestão calórica dos participantes, o que também pode ter impulsionado as melhoras observadas. Também é importante ter em mente que nem todas as dietas vegetarianas são saudáveis. Os autores alertaram sobre algumas dietas que permitem, por exemplo, alimentos fritos e ricos em gorduras trans e sal, como vegetais empanados, podendo aumentar o risco de diabetes tipo 2 e doença arterial coronariana. Os pesquisadores apontaram que "mais de um terço dos estudos incluídos na metanálise não enfatizaram a importância do consumo de produtos integrais de origem vegetal e minimamente processados". No entanto, o fato de que as maiores reduções de HbA1c e LDL foram observadas em pacientes com diabetes tipo 2 e naqueles com alto risco cardiovascular "ressalta os potenciais efeitos protetores e sinérgicos das dietas vegetarianas na prevenção primária de doenças cardiovasculares". References 1. Timmis A, Vardas P, Townsend N, et al; Atlas Writing Group, European Society of Cardiology. European Society of Cardiology: cardiovascular disease statistics 2021. Eur Heart J. 2022;43(8):716-799. doi:10.1093/eurheartj/ehab892PubMedGoogle ScholarCrossref 2. Greenland P, Knoll MD, Stamler J, et al. Major risk factors as antecedents of fatal and nonfatal coronary heart disease events. JAMA. 2003;290(7):891-897. doi:10.1001/jama.290.7.891 ArticlePubMedGoogle ScholarCrossref 3. Lloyd-Jones DM, Leip EP, Larson MG, et al. Prediction of lifetime risk for cardiovascular disease by risk factor burden at 50 years of age. 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