Luiz Gonzaga: 112 anos do Rei do Baião
Gonzaga utilizou o seu talento para cantar um Nordeste desconhecido, e teve o rádio como aliado

Foto: Wikimedia Commons
Luiz Gonzaga do Nascimento foi um precursor. Nascido há 112 anos em Exu, no Sertão de Pernambuco, o cantor, compositor e músico pernambucano utilizou o seu talento para apresentar ao país um Nordeste desconhecido. Da seca da Asa Branca até as belezas do Luar do Sertão, Gonzaga cantou de tudo, e deu o tom de uma região marcada pela força do seu povo, da Bahia ao Maranhão.
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Em cerca de 50 anos de carreira, Luiz Gonzaga gravou mais de 600 músicas em 266 discos. De todos os títulos, 243 foram de sua autoria com parceiros, que ajudaram a construir a imagem do Nordeste em diferentes fases, como conta o neto de Gonzagão e filho de Gonzaguinha, o cantor e compositor Daniel Gonzaga.
“Gonzaga conseguiu mostrar o Brasil para o Brasil através de uma escolha maravilhosa de parceiros incríveis, tais como Zé Dantas, Humberto Teixeira e João Silva. Quem estuda suas canções viajando pelo Nordeste percebe o Nordeste das suas canções. As represas, as estradas, a fauna, a flora, as cidades. Elas (as canções) revelam um Sertão ainda pouco conhecido para o nordestino e totalmente desconhecido para o sudestino, que vê no Sertão somente uma área de tristeza. Gonzaga conseguiu enxergar isso em 1947, por isso considero ele o maior artista brasileiro”, afirmou.
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Parte das canções que o Rei do Baião fez questão de gravar surgiram de inquietações, e até mesmo, sofrimentos sentidos por ele enquanto nordestino, que precisou deixar sua terra. A cantora e compositora Anastácia, a Rainha do Forró, fala que sentiu isso de perto quando esteve em turnê com Dominguinhos, seu esposo à época, e Gonzagão.
“Quando as pessoas falavam sobre o Nordeste, sempre falavam depreciando. E isso machucava muito Gonzaga. Às vezes, a gente conversando, ele começava a enaltecer e falar sobre a qualidade, a importância, o vigor do povo nordestino do Sertão. Um dia, estávamos chegando no Recife, Dominguinhos dirigindo, ele no banco do carona e eu atrás. Ele mandou parar o carro no acostamento e desceu. E disse: ‘desce aqui, Anastácia, vou te mostrar uma coisa. Olha para o céu. Tu já viu se em algum lugar o céu é mais bonito do que esse? Esse é o céu do meu Nordeste’”, relata a cantora.
Assim, ganharam o mundo A Feira de Caruaru, a Hidrelétrica de Paulo Afonso, e o Rio São Francisco, dentre tantos outros exemplos, que não se limitavam ao que havia de bom. Gonzaga denunciou a fome, a pobreza e a violência sofridas pelo nordestino em músicas como A Volta da Asa Branca; Terra, Vida e Esperança e Pau de Arara.
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Rádio
Para que essa mensagem pudesse chegar até as autoridades, Anastácia lembra que o Rei do Baião contou com um grande aliado: o rádio.
“Eu acho que naquela época, o rádio foi a maior maneira da gente difundir o trabalho. Eu mesma descobri Gonzaga através do rádio. Ouvi a voz do Gonzaga e eu me encantei. Eu acho que o rádio é de grande importância, sempre foi de grande importância, até hoje”, fala.
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Gonzaga atual
E assim como o rádio, Gonzaga se mantém atual. Mesmo após 35 anos de sua morte, as músicas que ganharam o mundo com a sua interpretação única ainda falam de um Nordeste presente.
Se a Ave Maria toca em muitas rádios do interior do Brasil às 18h, nas plataformas digitais, a procura por Gonzaga também é alta. Na Deezer, cresceu 96% em 2023, e no Spotify, por mês, o Rei do Baião tem mais de um milhão de ouvintes. Segundo Daniel Gonzaga, isso pode ser explicado pela conexão das letras com os desafios do país.
“Você vê que nessa realimentação, ele continua dando ‘a visão’ do que está acontecendo. Quando ele fala que numa tarde bem tristonha, gado muge sem parar e houve um assassinato misterioso, hoje em dia há assassinatos misteriosos o tempo inteiro. O Brasil era de determinado jeito naquela época e continua desse mesmo jeitinho. Gonzaga está vivo, não creio que morrerá. Porque ele, de certa forma, foi abastecido pelo Sertão e abastece o Sertão. Então, nessa realimentação, os dois permanecerão vivos para sempre”, afirma.
Nos 112 anos do nascimento de Luiz Gonzaga é sempre bom lembrar: para o Nordeste, um porta-voz. Para o Brasil, muito mais que o Rei do Baião.
Edição: Daniele Monteiro
Sonorização: Lucas Barbosa
Produção e reportagem: Lucas Arruda
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