Opinião|Quando o governo fala com o povo, não com a bolha

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Escrevo aqui como alguém que respira política e observa os movimentos sempre buscando distância das paixões ideológicas.
Nesta quinta-feira (31.07.25), o vice-presidente Geraldo Alckmin apareceu no programa da Ana Maria Braga, onde muita gente assiste tomando café da manhã ou conciliando com as atividades domésticas. Ele foi explicar, à sua maneira, as novas tarifas que Donald Trump colocou sobre produtos brasileiros.
O que mais chamou atenção nas redes sociais não foi o tema da entrevista, mas sim as piadas e memes que circularam, ironizando a escolha do “Mais Você” para tratar de um assunto tão sério — como se conversar na TV aberta fosse pouca coisa diante do tamanho do problema.
Admito: também ri dos memes. Mas mudei de ideia numa conversa rápida com meu amigo Pedro Silveira, presidente da CAAPE. Ele destacou que Alckmin acertou em cheio ao usar um dos programas mais populares do Brasil para falar diretamente com o público, deixando de lado discursos complicados. O vice-presidente foi claro ao explicar os desafios trazidos pelas medidas americanas e destacou o que o governo está fazendo para proteger a economia, apostando em um papo estilo olho no olho com quem realmente sente o impacto das decisões: o cidadão comum.
Não tenho intenção de entrar no campo do acerto ou desacerto da política internacional ou das conversas entre governos — isso deixo para os especialistas. Mas uma coisa ficou evidente: o governo entendeu que, para conversar com a maioria, não basta fazer coletivas ou emitir notas oficiais. É preciso estar presente, de maneira descontraída e direta, exatamente como Alckmin fez nessa manhã.
Enquanto isso, a oposição segue dividida, sem saber se apoia as medidas de Trump só para antagonizar o governo ou se reconhece que tudo isso faz parte de uma política mais dura dos Estados Unidos, que não escolhe lado e segue interesses próprios, deixando simpatias de lado.
Na entrevista, Alckmin foi simples: “Esse tarifaço é um perde-perde, os americanos vão pagar mais caro em produtos como café, carne, fruta e peixe, e isso nos atrapalha em mercado, emprego e crescimento”. Lembrou ainda: “Ninguém vai ficar desamparado”. Sobre o possível diálogo entre Lula e Trump, disse sem rodeios: “Se depender do Lula, a conversa é pra ontem. Mas essas conversas precisam ser preparadas”.
O resultado apareceu nos números. O “Mais Você” bateu recorde de audiência: média de 7,6 pontos e pico de 9,5 na Grande São Paulo, superando todos os concorrentes, inclusive plataformas digitais como YouTube e Netflix no mesmo horário. Mais de 1,5 milhão de pessoas acompanharam tudo ao vivo, com destaque para as classes C e B — justamente o eleitorado fundamental de qualquer disputa.
No fim das contas, enquanto as críticas continuam circulando nas bolhas de sempre, o governo conseguiu colocar o assunto no centro do debate nacional. Porque quando um tema vira meme e reflexão ao mesmo tempo, é sinal de que ele realmente chegou até quem importa: o povo.