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Educação

Ensino superior no pós-pandemia: desafios e estratégias


Por: REDAÇÃO Portal

Com o avanço da pandemia do novo coronavírus, desde 16 de março, muitas universidades paralisaram suas atividades, como é o caso das federais e estaduais, já as privadas continuaram as práticas pedagógicas de forma remota

Com o avanço da pandemia do novo coronavírus, desde 16 de março, muitas universidades paralisaram suas atividades, como é o caso das federais e estaduais, já as privadas continuaram as práticas pedagógicas de forma remota

Foto: Reprodução

25/08/2020
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Por Juliane Marinho

De repente a rotina universitária que é sinônimo de agilidade, diminuiu seu ritmo. A ida à biblioteca, os estudos em grupos, debates e projetos acadêmicos precisaram ser adiados ou passaram a ser desenvolvidos em plataformas não convencionais. Com o avanço da pandemia do novo coronavírus e consequentemente, o isolamento social, muitos planos não saíram do papel. Desde 16 de março, muitas universidades paralisaram suas atividades, como é o caso das federais e estaduais. As instituições privadas tentaram encontrar alternativas para continuar as práticas pedagógicas de forma remota.

Dentre os principais obstáculos enfrentados pelos estudantes, professores e membros das universidades, estão a falta de equipamentos, como computador, tabletes, acesso à internet de qualidade, além da falta de habilidade com as plataformas digitais. Para o pró-reitor de graduação da Universidade de Pernambuco, Ernani Santos, um dos maiores desafios enfrentados pela educação no período de pós-pandemia é conseguir transmitir o mesmo nível do ensino presencial para o ensino à distância, e também possibilitar chances de continuidades dos trabalhos a todos. De acordo com ele a instituição precisa “manter a qualidade dos cursos de graduação e pós-graduação, em todas as suas atividades, de maneira que não haja exclusão de qualquer segmento dentro da comunidade acadêmica (alunos, professores, discentes, docentes e técnicos)”, relata Ernani.

Falar sobre as adversidades encontradas na educação brasileira, é um assunto que gera um longo debate. Atualmente, com as medidas determinadas para controlar a disseminação da Covid-19, esse tema ficou mais visível aos olhos da sociedade. A aposta do EAD para seguir o calendário universitário não foi uma alternativa para todos. O pró-reitor de Extensão e Cultura da Universidade Federal Rural de Pernambuco, Moisés Santana, afirma que um dos principais pontos que merecem atenção neste momento, são os alunos em situação de vulnerabilidade social, que não tem acesso a computador e rede de internet: “Os estudantes enfrentam a falta de equipamentos e conexão. De acordo com dados coletados pelo Consórcio Pernambuco Universitas, 30% dos alunos das instituições públicas, têm dificuldade de acesso à conectividade, por causa da situação de vulnerabilidade social. Outro ponto, é que, essa mudança não acontece no processo automático, de um para o outro, essa etapa exige novos conhecimentos dos docentes, novos modos de lidar com as tecnologias, com o acesso ao conteúdo por essa via remota, é um aprendizado mútuo dos alunos e de professores” esclarece o docente.

Estudante de Psicologia, Gerirlany Ferreira

A mudança na rotina, a quebra do contato social e a nova maneira de avaliação do ensino remoto são fatores que refletiram diretamente no aprendizado e desempenho desses jovens. A estudante de Psicologia do 8º período da Faculdade de Ciências Humanas de Olinda, Gerirlâny Ferreira, relata que uma das maiores adversidades enfrentadas no ensino à distância, foi saber distribuir o tempo para cada matéria e continuar mantendo o desempenho que tinha quando as aulas eram presenciais.  “Assegurar a rotina e conseguir realizar todas as atividades com o tempo pré estabelecido pelos professores, foi algo mais desafiador. Um ponto positivo de estar tendo aulas online, é que não gasto muito tempo com deslocamento, pois moro em Igarassu e estudo em Olinda, geralmente, gastava tempo no transporte público”, declara a universitária.

Aluno do curso de Economia, Renato Lopes​​​​​

Já Renato Lopes, aluno do 4º período do curso de Economia na Universidade Rural de Pernambuco, conta que precisou atrasar a graduação em razão da paralisação das aulas. “Vou terminar meu curso mais tarde, o que mudou vários objetivos e planejamentos para este ano, mas entendo que foi necessário para conseguir amenizar o contágio do coronavírus. Neste semestre começam as atividades remotas e irão auxiliar bastante. Acredito que a maior questão será a adaptação com o novo formato, porque se os professores estiverem à disposição, as aulas serão produtivas do mesmo jeito”, comenta Renato.

Estratégias e ações desenvolvidas para o pós-pandemia

Em decorrência dos riscos da pandemia da Covid-19, o Ministério da Educação, Mec, estabeleceu um Protocolo de Biossegurança, mesmo sem ter um prazo ou uma data para a retomadas das aulas presenciais nas instituições federais de ensino. O documento foi desenvolvido por médicos, biólogos e sanitaristas. Dentre a elaboração das ações de cuidado e prevenção contra ao novo coronavírus, estão as medidas coletivas: organização das equipes para trabalharem respeitando o distanciamento social; manter, sempre que possível, portas e janelas abertas para a ventilação do ambiente; considerar o trabalho remoto para colaboradores do grupo de risco e priorizar o uso da tecnologia para realização de reuniões. Nas medidas individuais: utilização de máscaras, seguimento das normas de etiqueta respiratória para proteção em caso de tosse e espirro; lavar as mãos com água ou higienizar com álcool em gel 70% e evitar o cumprimento com aperto de mãos, beijos e abraços.

Para a diretora digital da Universidade Federal Rural de Pernambuco, Teresa Maciel, o cenário atual mesmo sendo considerado uma reconstrução para educação universitária, as ferramentas para produção e publicação de vídeos, repositórios online e ferramentas para a comunicação e as empresas de serviços online, como o Google, por exemplo, facilitam o contato da população com as soluções digitais. Ela reforça, que a mudança propagada pela pandemia, resulta em como desenvolver os métodos de ensino e outros fatores críticos. “A própria formação do aluno precisa ser repensada. Implica em um investimento forte na infraestrutura computacional e em ações estratégias e sistemáticas de inclusão digital, tanto do aluno quanto do professor”, ressalta a diretora.

Segundo Ernani Santos, a adoção do ensino remoto para a execução do Período Letivo Suplementar (PLS), que teve início no dia 17 deste mês na Universidade de Pernambuco, visa dar continuidade e prestar um ensino de excelência, assim como o presencial. Ele fala que a universidade realizará as atividades a partir do uso das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (videoaulas e conteúdos organizados em plataformas digitais). “É importante a construção e regulamentação do ensino híbrido, que deve ocorrer após o ensino remoto. Já estamos trabalhando nesta direção, tendo em vista que, enquanto não houver vacina, não poderemos retomar completamente as atividades como de costume.  Nesta direção, estamos estudando como as práticas e os estágios devem ocorrer, num futuro breve, em que o presencial e o remoto caminharão lado a lado”, afirma Ernani.

Visando resolver a problemática de muitos alunos que enfrentam carência de posse de computadores e uma boa rede de internet, a Universidade Federal Rural de Pernambuco, aprovou um auxílio financeiro de até R$ 1.380 para os alunos que estão em situação de vulnerabilidade social. O pró-reitor de Extensão e Cultura da UFRPE, Moisés Santana, comenta que a instituição deu seguimento ao ensino a partir do dia 17 deste mês com a execução do Período Letivo Excepcional (PLE), que será dividido em dois momentos, o 2020.3 e o 2020. 4. A Universidade Federal também segue a retomada das atividades de modo remoto nesta segunda-feira (24). Este semestre letivo será de caráter complementar, assim, considerado voluntário, os estudantes devem decidir se realizam a matrícula.

A Universidade Católica de Pernambuco, Unicap, continua desenvolvendo as práticas pedagógicas à distância. Para a coordenadora do curso de Pedagogia, Maria do Carmo Motta,  essa é a oportunidade de apropriação dos recursos tecnológicos utilizados no último semestre. “Podemos dominar as ferramentas disponíveis nas plataformas e expandir os métodos disponíveis nos ambientes virtuais, argumenta a coordenadora. Maria do Carmo, também afirma, que esse episódio, possibilitará na valorização do papel e da função dos professores. É uma fase de acolhimento, reflexões sobre o vivenciado e construção de perspectivas”, constata a pedagoga. 

Um dos pontos mais questionados pelas instituições públicas de ensino estar a distribuição dos recursos para as áreas de pesquisa e ciência, além de infraestrutura. Recentemente foi anunciado um possível corte na educação de R$ 1,434 bilhão nos investimentos das universidades e institutos federais de todo o Brasil. Em Pernambuco, o orçamento terá redução de 18% para a UFPE e UFRPE. Já o IFPE, terá uma diminuição de 20%. Para Ernani Santos, a pandemia evidenciou como as diferenças socioeconômicas, afetam o país e, neste processo, a comunidade acadêmica. O Brasil precisa investir em educação e conectividade e, por consequência, em tecnologia, pois nada disso está dissociado. “O uso das tecnologias na educação é uma consequência, uma vez que já estamos na segunda década do século 21. Investir na universidade, significa investir em ciência, tecnologia e educação, tudo é cíclico”, argumenta. O professor da UNICAP Business School, Fernando Wanderley, afirma que o estudante é um ser de inteligências plurais e não pode ser restringindo a uma nota de zero a dez apenas. Assim, o uso da tecnologia deve apropriar o professor a ter múltiplas facetas de engajamento, aprendizado e avaliação. “O que precisamos mesmo, é unir esforços para o compartilhamento de uma educação renovada e digital. Precisamos de uma mudança de mentalidade. Não adianta termos estratégias digitais no ensino remoto e continuarmos com o pensamento analógico de educação”, defende Fernando.

Ainda de acordo com Fernando, o ensino presencial é muito importante para a obtenção dos melhores resultados de engajamento, colaboração e a cocriarão de saberes. Mas, o ensino remoto não será mais algo tão distante. A velocidade de oferta de inúmeras ferramentas de reuniões, aulas e conferências remotas realizadas a partir do uso da plataforma da Suíte do Google (Google Classroom e Google Meet) e a Zoom, que habilitar o professor a trabalhar dinâmicas em grupos, por exemplo. “Portanto, o diálogo entre o ensino presencial e remoto será uma realidade que veio realmente para ficar. Sem falar ainda, nas possibilidades de termos uma rede maior de colaboração de professores e palestrantes de todo o mundo para ministrar palestras e aulas como professores convidados sem a devida necessidade de custos com viagens e hospedagem”. Assim, ele também afirma que a avaliação também tem sido um processo de forte reflexão das universidades. Encontrar um meio de realizar avaliações mais holísticas do estudante a partir de métricas de Gestão Ágil de Projetos e atribuição de Análise de Dados como suportes tecnológicos, são por exemplo, pautas de atuais discussões.

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