Foco da indústria, Brasil investe na descarbonização do setor automotivo
O Nordeste brasileiro tem mostrado que o futuro já chegou e ele precisa ser verde
Foto: Pixabay
Durante décadas, diversas produções cinematográficas, como os Jetsons, projetaram os carros do futuro tendo a capacidade de atingir altas velocidades e longas distâncias em pouco tempo, por meio do ar.
O futuro chegou, e é bem verdade que os carros conseguem se locomover com cada vez mais rapidez. No entanto, eles continuam no chão e emitindo gases poluentes, como monóxido e dióxido de carbono (CO e CO2), capazes de danificar a manutenção da vida no planeta, de modo irreversível, da forma como são jogados na atmosfera.
Juntos, os dez automóveis mais vendidos no Brasil, de acordo com a tabela do Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular, publicada pelo Inmetro, emitem quase 182 mil toneladas de CO2 por ano. Um cenário nada positivo para o país que se comprometeu em reduzir a emissão de gases de efeito estufa, até 2025, de 37% para 48%.
Pensando no amanhã e tentando reverter esse quadro, em julho, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) lançou cinco chamadas públicas para projetos de pesquisa do Programa Mobilidade Verde e Inovação (Mover).
O investimento de R$ 267,4 milhões do governo federal foca em iniciativas que promovam a descarbonização da indústria automotiva em sua cadeia de produção.
"O Mover já mobilizou R$ 130 bilhões de investimentos da iniciativa privada e 2% do crédito financeiro vai para o Fundo Nacional de Desenvolvimento Industrial e Tecnológico (FNDIT), que vai para os projetos estruturantes, para os projetos de digitalização e vários projetos, de maneira transparente e ao mesmo tempo, procurando estimular a inovação, a descarbonização, a geração de emprego", explicou o vice-presidente e ministro Alckmin.
Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil
Com o lançamento dos editais, o governo espera aquecer ainda mais o setor nacional de carros elétricos, que tem apresentado crescimento considerável. Do montante de R$ 267,4 milhões, pelo menos 68,3% está destinado à cadeia de produção de automóveis brasileira: quase R$ 183 milhões.
Projetos em ação
Quanto aos carros que já estão em circulação, a Neoenergia lançou, em 2022, o programa Trilha Verde, na ilha de Fernando de Noronha (PE).
No total, 14 veículos elétricos foram inseridos na ilha, sendo 11 veículos leves de passeio, 02 veículos com a tecnologia V2G (vehicle-to-grid, que devolve energia à rede) e 01 buggy 100% elétrico (tecnologia pioneira no Brasil).
O projeto Trilha Verde também promoveu a instalação de duas usinas solares fotovoltaica, cada uma com potência de 50 kWp, e um sistema de armazenamento de energia, com capacidade de 215 kWh/100 kW. Esse sistema energético está em operação e injetando energia renovável na rede equivalente a três vezes a necessidade de carregamento dos veículos elétricos.
Ainda para o segundo semestre de 2024, a Neoenergia espera que 12 eletropostos estejam disponíveis para carregar todos os veículos elétricos em Noronha. Eles serão interligados por meio de uma infraestrutura de telecomunicações em fibra ótica e acompanhados por um software. Segundo a Neoenergia, o projeto acompanha como cada ação impacta o meio ambiente na região.
O Trilha Verde é realizado em parceria, entre outros entes, com o Governo de Pernambuco, a francesa Renault e a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Foto: Renault/Reprodução
Veículos a combustão já não podem entrar no arquipélago desde agosto de 2023, e a partir de 2030, será vedada a circulação de carros movidos à gasolina, diesel e etanol, pela Lei Estadual 16.810/20.
Outro exemplo construído pela própria companhia é a maior eletrovia de recargas rápidas do Norte-Nordeste: o Corredor Verde. Com 1.200 km de extensão e 17 estações instaladas, o corredor liga Natal (RN) a Salvador (BA), passando por seis capitais nordestinas e beneficiando cerca de 70 municípios.
Realizado em parceria com o Senai, a Universidade Federal do ABC, o Grupo de Estudos do Setor Elétrico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a empresa suiça Asea Brown Boveri (ABB), o Corredor Verde é pioneiro no Brasil quanto à cobrança pela recarga dos veículos - o que permite estudar a demanda desse setor para formulação de novos projetos e serviços.
Comparando a quantidade de recargas realizadas nas estações do Corredor Verde entre os meses de dezembro de 2023 e julho de 2024, o número triplicou, segundo a Neoenergia. A empresa também observa a queda no preço dos veículos elétricos e híbridos plug-in no Brasil como positiva.
O estabelecimento de uma fábrica da BYD nesse segmento, em Camaçari, na Bahia, faz com que haja perspectiva de aumento na frequência de recargas.
Carros elétricos
A Stellanis anunciou um investimento de R$ 30 bilhões no Brasil, entre 2025 e 2030, para apoiar o lançamento de pelo menos 40 novos modelos que promovam a descarbonização.
Foto: Divulgação/Polo Stellantis em Goiana, na Mata Norte de Pernambuco
Somando todas as montadoras, a quantia chega a quase R$100 bilhões. Os carros elétricos devem ser cada vez mais vistos nos grandes e pequenos centros urbanos.
O primeiro semestre de 2024 registrou um total de 79.304 veículos leves eletrificados vendidos no Brasil, com 14.396 emplacamentos em junho. Isso representa um aumento de 146% sobre os 32.239 do primeiro semestre de 2023, e de 288% sobre os 20.427 do primeiro semestre de 2022, como destaca Jorge Moraes, colunista da CBN Recife.
Ele, no entanto, acredita que o carro elétrico não deve acabar com o mercado para os outros modelos que estão em circulação há mais tempo.
"O carro elétrico não foi construído pra terminar com o carro a gasolina, o carro flex ou carro a diesel. Foi para poder contribuir com o meio ambiente. O que eu quero pontuar para vocês é que o futuro, certamente, daqui a longos anos, será 100% elétrico. Mas quando, ninguém sabe. Essa conexão direta com os carros vai evoluindo ponto a ponto. A questão das baterias, a redução dos custos e toda uma atividade que envolve a cadeia automotiva global", acredita.
A partir de 2030, a aceleração da frota de carros eletrificados individuais chegará a R$ 200 bilhões em negócios no país, segundo estudo da consultoria Mirow & Co. Para Jorge Moraes, os próximos anos devem mostrar uma mistura no setor automotivo.
"Temos o etanol, uma baita de uma riqueza que faz com que a gente pense, repense, recalcule e venha com iniciativas como a Stellantis vai trazer com a BYD, que eles chamam de híbridos leves, onde há a conexão direta entre as baterias, as máquinas, os conversores de torque e os motores a combustão. É uma mistura de tudo, onde o consumidor vai poder escolher", ressalta.
Para um país que não indica ter interesse em investir no transporte coletivo, caminho apontado por pesquisadores como o mais eficiente para redução da emissão de gases poluentes em larga escala, conseguir descarbonizar o setor automotivo se torna uma demanda urgente. O Nordeste brasileiro tem mostrado que o futuro já chegou e ele precisa ser verde.
Com produção de Lucas Arruda,
Reportagem - Daniele Monteiro
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