Universidades de Pernambuco inovam com oferta de graduações em Inteligência Artificial

O futuro é uma preocupação diária para a humanidade. Com o avanço das tecnologias, o ser humano é frequentemente provocado a pensar sobre em que condições o amanhã será possível, desde os impactos na natureza causados pelas mudanças climáticas até o papel da tecnologia na sociedade, no trabalho e dentro de casa. 

No audiovisual, produções como "O Exterminador do Futuro (1985)", "Eu, Robô (2004)", "Ex-Machina (2016)" e "Westword" (2016) se propuseram a mostrar como poderia ser a relação da humanidade com inteligências artificiais e robôs em um futuro distópico. Em certa medida, também ajudaram a criar proximidade com termos que pareciam tão distantes.

Mas hoje, a própria Inteligência Artificial (IA) é parte da realidade, de tal maneira que algumas atividades tratadas como repetitivas ou muito burocráticas já são imediatamente delegadas a sistemas que utilizam IA - como o ChatGPT, desenvolvido pela OpenAI, e a ferramenta de pesquisa Pinpont, do Google. Inclusive, a transcrição dos áudios que você vai ouvir nesta reportagem foi realizada com auxílio de uma inteligência artificial.

De acordo com dados da pesquisa “Inteligência Artificial na Educação Superior”, realizada em 2024 pela Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior (ABMES), em parceria com a Educa Insights, sete em cada dez estudantes universitários ou que têm interesse em cursar uma faculdade utilizam frequentemente ferramentas de IA na rotina de estudos. Além disso, cerca de 80% dos entrevistados conheciam as principais ferramentas.

Acompanhando esses números, o Brasil observa o crescimento da procura por cursos de Inteligência Artificial Generativa - capaz de criar os textos, imagens, áudios e vídeos que viralizam nas redes sociais pela semelhança com a realidade. Segundo o “Relatório Global de Habilidades”, em comparação ao ano anterior, houve um aumento de 282% nas matrículas para esses cursos no país.

E nos estabelecimentos de ensino superior, responsáveis pelas pesquisas que movem o Brasil, Inteligência Artificial tem deixado de ser cadeira eletiva nas graduações para assumir o espaço de bacharelado.  Pernambuco desponta como um estado pioneiro na formação em IA, tanto no ensino público quanto no privado.

UFPE

Na década de 1970, o Centro de Informática da Universidade Federal de Pernambuco (CIn-UFPE) criou o primeiro grupo de pesquisa do Brasil na área de Inteligência Artificial (IA) - cerca de 20 anos após o matemático inglês Allan Turing escrever sobre ser possível uma máquina pensar e imitar o comportamento humano inteligente.

E no último mês de março, a universidade anunciou a nova e quarta graduação oferecida pelo Centro de Informática (CIn): bacharelado em Inteligência Artificial. Para a formação da primeira turma, no semestre 2025.1, os interessados puderam utilzar as notas dos três últimos anos do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Por semestre, serão oferecidas 25 novas vagas.

Foto: Reprodução/CIn-UFPE

O professor George Darmiton, coordenador da graduação em Inteligência Artificial (IA) da UFPE, explicou que a proposição do novo curso surgiu a partir da percepção de que era necessário formar pessoas para atuar na ponta da inovação.

“Precisamos de gente nos bastidores escrevendo programas de computador. Então, a ideia é que os egressos do curso tenham conhecimento sobre os fundamentos da Inteligência Artificial. Como é que essa Inteligência Artificial funciona e também como usá-la. É importante também saber quais são os riscos associados a ela. Não apenas entendendo como é que elas funcionam, mas também para desenvolvê-las de uma maneira ética e segura”, observou.

Em oito períodos, os estudantes terão acesso a conteúdos como Inteligência Artificial Generativa e modelos de linguagem, redes neurais, algoritmos e ética em Inteligência Artificial (IA). A partir de 2026, a seleção será prioritariamente por Sistema de Seleção Unificada (Sisu/UFPE).

Darmiton também detalha que o Centro de Informática da Universidade Federal de Pernambuco (CIn-UFPE), referência no país, já possuía carga horária referente à Inteligência Artificial nos bacharelados em Ciência da Computação, Engenharia da Computação e Sistemas de Informação. Porém, com o passar do tempo, a formação está atrasada e a área tem demandado por cada vez mais profissionais.

 “Muitas vezes o profissional, após a formatura nesses três cursos, tinha que passar por uma especialização ou um mestrado em IA. Diante desse crescimento da área, a gente verificou a necessidade de ter um novo curso com mais carga horária focada nessa tecnologia. Agora conseguimos agilizar a formação de profissionais que o mercado deseja com a competência em Inteligência Artificial”, relatou.

Unicap

No ensino superior privado, a Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) deu um passo à frente na área de tecnologia ao inaugurar a graduação em Inteligência Artificial no último vestibular, realizado no mês de junho. 

Foto: Reprodução/Unicap

Com laboratórios especializados e o apoio de parceiros do mercado na formação, a Unicap aposta na união entre desenvolvimento de competências técnicas e humanas aliada à formação crítica, multidisciplinar e conectada às grandes demandas da atualidade. 

Segundo a coordenadora do curso, a professora Liliane Fonseca, as universidades precisam estar atentas e preparadas para as demandas do mercado de trabalho - em especial no setor de tecnologia. 

“É fundamental que as universidades ofereçam cursos específicos sobre Inteligência Artificial porque essa área está no centro da revolução tecnológica que estamos vivendo. A IA vem transformando setores como saúde, educação, transporte, e-commerce e até a indústria criativa. Então, oferecer um curso especializado proporciona aos alunos uma formação sólida especializada, preparando-os para contribuir diretamente com a inovação e a evolução dessas tecnologias”, disse.

A coordenadora também aponta quais diferenciais a graduação em Inteligência Artificial (IA) da Unicap possui. Entre elas, está a oportunidade de que estudantes de outros cursos tenham acesso aos conteúdos do bacharelado.

“Na Unicap buscamos ser uma instituição inovadora. Então, por isso, nós oferecemos diversas oportunidades para que os dissidentes de outras graduações possam acessar os conteúdos de Inteligência Artificial. Temos programas de extensão, de disciplinas eletivas e até cursos de curta duração, que permitem que alunos de outras áreas, como engenharia, economia, design e medicina possam se beneficiar. Acreditamos que a interdisciplinaridade é essencial para o avanço da IA”, relatou.

Mercado de trabalho

Com as movimentações do mercado de trabalho influenciando a criação de novos cursos e a adptação de antigas formações às tecnologias, os estudantes são provocados a pensar, ainda no ensino básico, sobre o cenário com o qual vão se deparar quando tiverem que escolher o caminho profissional.

Para a Diretora Acadêmica do Grupo Ser Educacional, Simone Bérgamo, autora do livro Educação Inovadora, o movimento das universidades pernambucanas de oferecer graduações em Inteligência Artificial é fundamental. 

“Pensar em cursos de graduação voltados especificamente para Inteligência Artificial, como os que estão sendo lançados pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e pela Universidade Católica (Unicap), era algo impensável anos atrás. Isso mostra o quanto o cenário educacional está se adaptando rapidamente às transformações tecnológicas”, conta.

Os conteúdos ministrados nos cursos, para Simone Bérgamo, devem estar de acordo com o perfil atual do jovem. E em Pernambuco, com a presença de centros de referência em tecnologia e pesquisa como o Porto Digital e o Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (Cetene), a procura pela área é alta.

“Eles vivem em um tempo em que o conhecimento está muito mais acessível, dinâmico e prático. E na área da tecnologia que evolui numa velocidade impressionante, isso exige uma postura ativa, curiosa e adaptável. O jovem percebe que precisa aprender continuamente e que não existe mais um único caminho de formação. Ele pode combinar graduação, cursos livres, experiências digitais e práticas profissionais de forma muito mais integrada”, analisa.

Foto: Reprodução/Uninassau

Além da Universidade Federal (UFPE) e da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), o Centro Universitário Maurício de Nassau (Uninassau), do Grupo Ser Educacional,  oferece o curso superior tecnológico em Inteligência Artificial desde 2021, cuja avaliação pelo MEC obteve as melhores notas.

A Uninassau também está lançando uma pós-graduação em IA para gestores. Aos estudantes de outros cursos, a partir do segundo período, haverá uma disciplina de Inteligência Artificial Aplicada no segundo semestre deste ano.

Futuro

Foto: Reprodução/Pexels

Mais do que uma inovação curricular, as universidades públicas e privadas de Pernambuco têm percebido que ofertar cursos de Inteligência Artificial (IA) representa formar novas gerações de estudantes para um mundo onde a tecnologia é parte do pensamento estratégico, da vida profissional e, mais ainda, da vida cotidiana das pessoas. 

Tão importante quanto saber utilizar as ferramentas de IA é entender como e por que fazê-las. Afinal, o futuro da humanidade já está entre nós.

Edição de texto: Daniele Monteiro
Sonorização: Lucas Barbosa 
Reportagem - Lucas Arruda